José Manuel Cascalho é professor auxiliar no Departamento de Ciências da Educação, extensão do Campus de Angra do Heroísmo. É doutorado em Ciências da Computação (2008) pela Universidade dos Açores. Tem trabalhado na aplicação de sistemas multi-agentes em áreas diversas de investigação, entre as quais, mais recentemente na biologia. Na educação tem orientado algum do seu trabalho na divulgação da utilização da tecnologia como meio de promover a aprendizagem em ciência e matemática.
Prof. Cascalho, está a organizar a XVI Conferência Portuguesa de Inteligência Artificial - EPIA 2013 com vários outros docentes e investigadores da Universidade dos Açores. Como é que este evento surge num campus onde não há investigação de fundo em Inteligência Artificial? E quem participa?
O evento é organizado em parceria com os laboratórios de investigação LIACC, laboratório de Inteligência Artificial sediado na Universidade do Porto, o LabMAg, laboratório de modelação de agentes de software, sediado na Universidade de Lisboa,o CMATI, centro de matemática aplicada e tecnologia da qual faço parte e a colaboração do grupo de biodiversidade do CITA-A. Surge na sequência da resposta a um convite que é feito todos os dois anos pela Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA) que chancela estes encontros.
A organização da qual fazem parte professores e investigadores da Universidade dos Açores, Luís Gomes e Hélia Guerra, o Pedro Cardoso, que agora está na Universidade de Helsínquia, e professores de outras Universidades, Luís Paulo Reis, da Universidade do Minho, e Luís Correia da Universidade de Lisboa, apresentou uma proposta ganhadora para organizar este evento em Angra do Heroísmo.
Vêm ao encontro diferentes investigadores, muitos deles estudantes de doutoramento e pós-doutoramento das diferentes sub-áreas de investigação da IA. E, como encontro internacional que é, receberemos investigadores de toda a Europa, do Brasil e dos EUA.
Este será o 16ª Encontro e esta longevidade deve-se à Associação Portuguesa de Inteligência Artificial, APPIA. E será a primeira vez que ocorre nos Açores. Este facto tem significado particular para mim, porque o meu doutoramento foi na área de Inteligência Artificial (IA).
A Inteligência Artificial é um ramo da ciência da computação muito amplo. Ela surge pela necessidade de procurar perceber o que é isso de ser inteligente, de tomar decisões, de aprender, de saber ponderar opções em situações complexas e justificar essa opções, enfim, saber fazer o que nós, humanos, conseguimos fazer "naturalmente" e em que em certas ocasiões precisamos mesmo de ajuda para fazer melhor. Por outro lado há desde o início da IA o interesse por construir máquinas que realizem tarefas de forma cada vez mais autónoma e inteligente. Na robótica já vemos, por exemplo, os robôs aspiradores que aspiram a casa sem interferência humana ou os famosos robôs que já vão servindo uma bebida.
Está a organizar um dos 'desafios' da conferência, sobre tecnologia inteligente e sensibilização para sustentabilidade. Estes desafios são um conceito invulgar no contexto de conferências. Que resultados esperam? Qual a importância para a região deste desafio em particular?
Estas iniciativas enquadraram-se na procura de pontes que a organização local procurou estabelecer com os investigadores e professores da Universidade e com laboratórios de investigação localizados nos Açores. Foi feito um convite para que investigadores locais apresentassem pequenos textos que relatassem problemas que investigadores locais enfrentam e que podem ser resolvidos recorrendo a soluções, de alguma forma ligadas à IA.
A iniciativa resultou no que designámos por "Challenges" que terá dois momentos, logo no dia 9 de Setembro, segunda-feira, no primeiro dia da conferência. O primeiro momento, da parte da manhã, resultará na apresentação de ideias que procuram fazer a ponte entre grupos locais e grupos de IA presentes na conferência.
Num segundo momento são convidados o CEO da SATA, Dr. António Menezes, o Prof. Gui Menezes do Departamento de Oceanografia e Pescas, o Prof. João Luís Gaspar, do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos e o Prof. Paulo Borges do Azorean Biodiversity Group integrado no CITA-A, numa sessão coordenada pelo Prof. Hélder Coelho, professor catedrático pela Universidade de Lisboa.
Procuramos com esta iniciativa dotar os investigadores de IA de um panorama da melhor ciência que se vai fazendo nos Açores e das questões que se procuram resolver e que podem e devem ter uma resposta com a contribuição da IA (ver programa detalhado em
http://www.epia2013.uac.pt/?page_id=352).
Esperamos uma boa adesão por parte dos participantes no encontro.
Outra iniciativa invulgar desta conferência é a oficina dedicada à construção de robots pelos alunos de diversas escolas. Como investigador ligada às ciências da educação, pensa que há um deficit de interesse na ciência e tecnologia e suas aplicações?
A tecnologia desperta sempre um enorme interesse por parte das crianças e dos alunos em geral. Portanto este tipo de iniciativa tem sempre sucesso garantido. Há ainda falta de oportunidade na maior parte das escolas para lidar com a tecnologia e, no caso particular, com este tipo de aplicações ligadas à robótica. Em cooperação com o Centro de Ciência de Angra do Heroísmo e os excecionais colaboradores que lá trabalham, apostámos na aquisição de robôs MindStorm da Lego e depois convidámos as escolas a associarem-se e a construírem robôs para uma luta sumo que ficou documentada na
página de Facebook do evento. As escolas aderiram e tivemos ainda uma meia-dúzia de robôs. Parece-me que este tipo de iniciativa puxa os alunos das escolas para a ciência e para a tecnologia e abre-lhes horizontes. Esta iniciativa só foi possível com a colaboração do LabMAg através de dois investigadores, o Prof. Paulo Urbano e o Prof. Luís Moniz da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que estiveram em Angra, dando apoio e incentivando professores e alunos para este projeto.