"O campus da ilha Terceira da Universidade dos Açores está em risco de perder o curso de Gestão, isto porque se conjugam duas anomalias: uma lei nacional que, como quase sempre acontece com as leis nacionais, não tem em atenção a realidade açoriana, e uma pergunta feita pela Reitoria a Lisboa que, pensamos nós, nunca deveria ter sido feita.
A dita lei nacional estipula que os cursos devem ocorrer nas localidades para onde foram acreditados. Neste caso teme-se que a enviesada mente lisboeta entenda que o curso tenha sido acreditado para Ponta Delgada e não para os Açores, região que, por mero acaso, tem nove ilhas e uma universidade que se chama dos Açores e que é composta por três campus. Ou seja, um curso nos Açores tem que ser acreditado para os Açores, não para Ponta Delgada, Angra do Heroísmo, Horta e por aí fora. Por maioria de razão é assim neste caso, não só porque o curso tem uma dinâmica assinalável na Terceira, ou seja, tem sucesso (qualquer que seja a bitola de análise), mas também porque na acreditação foram tidos em conta currículos de professores que dão aulas na ilha Terceira. Acreditamos que meter tudo isto em cabeças lisboetas não é tarefa fácil.
Mais estranheza nos causa, porém, o facto de a Reitoria da Universidade dos Açores ter decidido fazer uma pergunta a Lisboa bem sabendo que uma das consequências dessa pergunta pode ser o fim de um curso de sucesso na ilha Terceira. Outra consequência é o campus da Terceira entrar em dificuldades por deixar de contar com cerca de 170 alunos que representam uma fatia significativa do número total de discentes. Com o fim do curso certamente rumarão a outros destinos docentes que se têm revelado não só ótimos professores, como se têm assumido como dinamizadores de pensamento e de vida dentro e fora da universidade. Quer isto dizer que criar as condições para acabar com Gestão é também criar condições para desferir mais um golpe na Terceira - que de momento precisa de tudo menos de mais pregos para o seu caixão. Em resumo: o que terá passado pela cabeça da Reitoria da
Universidade dos Açores para levantar uma lebre destas? Não sabemos.
Andamos a ficar fartos - confessamos! - de tentarmos ser o motor da dinâmica que a Terceira precisa.
Por isso e em relação a este caso concreto, desafiamos docentes, discentes e elites locais a juntarem-se à "festa".
Editorial - Diário Insular - 31-05-2014