Sandro Nuno Ferreira de Serpa, nasceu a 24 de julho de
1974, sendo professor auxiliar desde 11 de Julho de 2013, no Departamento de
Ciências da Educação da Universidade dos Açores, onde iniciou o seu percurso académico,
como assistente estagiário, em Setembro de 2000.
Leciona várias cadeiras em diversos cursos ligadas à
formação e prática profissional de educadores e professores, à teoria das
organizações, à sociologia da educação e à investigação, entre outras.
No passado dia 11 de Julho, realizou o seu Doutoramento no ramo de Educação, especialidade de Sociologia da Educação, com a prestação
de provas de discussão pública, com crítica e defesa, de uma dissertação
intitulada As dinâmicas nas (re)configurações da cultura organizacional. A casa de
Infância de Santo António (1858-2008), na Universidade dos Açores, sob
a orientação do Professor Doutor Jorge Manuel Ávila de Lima, com um júri
presidido pela Senhora Vice-Reitora, Prof.ª Doutora Rosa Goulart, por designação
do Magnífico Reitor, sendo vogais o Doutor José Manuel Vieira Soares de
Resende, Professor Associado com agregação da Faculdade de Ciências e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa, o Doutor Jorge Adelino Rodrigues da Costa,
Professor Catedrático da Universidade de Aveiro, o Doutor Fernando Ilídio Silva
Ferreira, Professor Associado do Instituto de Educação da Universidade do
Minho, o Doutor Jorge Manuel Ávila de Lima, Professor Associado com agregação
da Universidade dos Açores, a Doutora Ana Cristina Pires Palos, Professora
Auxiliar da Universidade dos Açores, a Doutora Ana Isabel dos Santos Matias
Diogo, Professora Auxiliar da Universidade dos Açores e o Doutor Adolfo
Fernando da Fonte Fialho, Professor Auxiliar da Universidade dos Açores.
Como se envolveu na investigação científica?
A investigação científica, além de ser uma necessidade
na carreira académica é uma forma desejavelmente rigorosa e controlada de
compreender a realidade que nos rodeia. Este controlo, quer a nível do processo
de realização, quer, também, a nível do produto final (escrita) sempre me
entusiasmou e cativou apesar de reconhecer que apresenta dificuldades que devem
despertar o nosso espírito crítico e fazedor.
Foi com esse espírito que realizei o presente
doutoramento na procura de apresentar uma contribuição para o conhecimento
sobre os processos de formação e de transformação da cultura, enquanto
genericamente formas de ser, de pensar e de agir, mais ou menos partilhadas por um conjunto de
pessoas de uma organização enquanto unidade coletiva coordenada (no caso em
apreço do tipo educativo).
Como surgiu o
tema da sua tese de doutoramento?
Antes do mais, devo agradecer a possibilidade que me
foi dada de estudar a Casa de Infância de Santo António. Em primeiro ligar procurei
compreender a longa duração da organização Casa
de Infância de Santo António (fundada em 1858 enquanto Asilo da Infância Desvalida). Em segundo lugar, resolvi enveredar
por uma temática que articulasse questões educativas com perspetivas
organizacionais, tendo uma certa afinidade emocional com a organização, por
tê-la frequentado e por ter tido um familiar que fez parte de algumas das suas
Direções. Em terceiro lugar, e não menos importante, ao analisar os olhares
científicos centrados na cultura organizacional verifiquei que muitos
apresentavam um caráter unidimensional, redutor e simplista ao focar a sua
formação e transformação.
A sua tese chega a algumas conclusões bastante interessantes.
Como vê a sua aplicação?
Na tese, através de uma análise diacrónica que abrange
150 anos, procuro demonstrar que existe uma multiplicidade de fatores que
ajudam a entender a cultura de uma organização. Verifica-se que a cultura desta organização
sofreu reconfigurações, por vezes de uma forma não linear, para as quais
concorreram, ao longo do tempo, quer os contactos estabelecidos com o exterior
(na procura de recursos, na tentativa de legitimação das
finalidades e atividades aí desenvolvidas e, também, nas influências exercidas
nos membros da organização, tudo isto em diferentes contextos sociais), quer,
ainda, os contactos acontecidos na organização entre os atores individuais e
coletivos.
No final do percurso investigativo, compreende-se que
as transformações dos contextos, quer internos, quer externos à organização que
foram acontecendo se enquadram numa dimensão espaço-temporal socio-histórica.
Deparámo-nos com realidades complexas, cuja singularidade idiossincrática tem
de ser considerada e verificada empiricamente e que advém da coexistência, com
fronteiras fluidas entre si, de cultura, culturas, subculturas, contraculturas
presentes na organização, com variações ao longo do tempo.
Por tudo isto,
é percetível a possibilidade de aplicação destes resultados noutras
organizações desde que se considere que a cultura organizacional, mais do que um estado, é um
processo consubstanciado num equilíbrio híbrido e precário de coordenação
coletiva, resultante do conjunto de relacionamentos individuais e de relações
coletivas, internas e externas à organização, com maior ou menor
intencionalidade, e, em consequência, em permanente redefinição e reconstrução.
A compreensão (a relativa e a
possível) desta complexidade é que nos permitirá fugir àquilo a que um grande
sociólogo clássico Max Weber refere: ”o curso das coisas torna-se natural
quando não nos interrogamos sobre o seu sentido”. Ora, nenhuma organização é
uma reificação, mas antes é socialmente construída, pelo que implica
considerá-las enquanto processo coletivo social de coordenação, que não é
automaticamente dirigido, nem previamente determinado, nem neutro ou natural,
mas sim inserido num certo contexto social. Daqui resulta a necessidade de
superar, quer a reificação da organização enquanto objeto natural e inevitável,
fatalista, quer resultante de um procedimento (pré)determinado, quer, ainda, a
sua antropomorfização, que teria desígnios e propósitos próprios extrínsecos à
ação humana.
Assim, resulta que, ao investigarmos
as reconfigurações da cultura organizacional, temos de considerar, sempre, que
se trata de um processo social desenvolvido por atores individuais e coletivos,
que reproduz, mas também produz, soluções de integração interna e de adaptação
externa. A necessidade de conhecer mais e melhor acerca da temática em causa
revela-se imprescindível para procurar ter algum domínio no caminho a prosseguir
de uma forma consciente.
Vai continuar na investigação? Qual o próximo passo?
Após este trabalho de longo fôlego, penso continuar a
investir na relação entre a cultura organizacional e a ideologia organizacional
enquanto fator de legitimação das posições assumidas pelos seus dirigentes.
Para esse efeito, procurarei realizar uma comparação diacrónica e sincrónica
entre organizações de diversos tipos (educativas e empresariais, por exemplo).
Isto sem esquecer outras áreas de interesse primordial de investigação tais
como as dinâmicas dos processos de formação e de reconfiguração da cultura
organizacional em organizações educativas ou, ainda, os processos de construção da identidade pessoal,
social, educativa, profissional, organizacional e cultural.
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