2013/10/29

"As dinâmicas nas (re)configurações da cultura organizacional. A casa de Infância de Santo António (1858-2008)" - a tese de doutoramento de Sandro Serpa


Sandro Nuno Ferreira de Serpa, nasceu a 24 de julho de 1974, sendo professor auxiliar desde 11 de Julho de 2013, no Departamento de Ciências da Educação da Universidade dos Açores, onde iniciou o seu percurso académico, como assistente estagiário, em Setembro de 2000.
Leciona várias cadeiras em diversos cursos ligadas à formação e prática profissional de educadores e professores, à teoria das organizações, à sociologia da educação e à investigação, entre outras.

No passado dia 11 de Julho, realizou o seu Doutoramento no ramo de Educação, especialidade de Sociologia da Educação, com a prestação de provas de discussão pública, com crítica e defesa, de uma dissertação intitulada As dinâmicas nas (re)configurações da cultura organizacional. A casa de Infância de Santo António (1858-2008), na Universidade dos Açores, sob a orientação do Professor Doutor Jorge Manuel Ávila de Lima, com um júri presidido pela Senhora Vice-Reitora, Prof.ª Doutora Rosa Goulart, por designação do Magnífico Reitor, sendo vogais o Doutor José Manuel Vieira Soares de Resende, Professor Associado com agregação da Faculdade de Ciências e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Doutor Jorge Adelino Rodrigues da Costa, Professor Catedrático da Universidade de Aveiro, o Doutor Fernando Ilídio Silva Ferreira, Professor Associado do Instituto de Educação da Universidade do Minho, o Doutor Jorge Manuel Ávila de Lima, Professor Associado com agregação da Universidade dos Açores, a Doutora Ana Cristina Pires Palos, Professora Auxiliar da Universidade dos Açores, a Doutora Ana Isabel dos Santos Matias Diogo, Professora Auxiliar da Universidade dos Açores e o Doutor Adolfo Fernando da Fonte Fialho, Professor Auxiliar da Universidade dos Açores. 

Como se envolveu na investigação científica?

A investigação científica, além de ser uma necessidade na carreira académica é uma forma desejavelmente rigorosa e controlada de compreender a realidade que nos rodeia. Este controlo, quer a nível do processo de realização, quer, também, a nível do produto final (escrita) sempre me entusiasmou e cativou apesar de reconhecer que apresenta dificuldades que devem despertar o nosso espírito crítico e fazedor.
Foi com esse espírito que realizei o presente doutoramento na procura de apresentar uma contribuição para o conhecimento sobre os processos de formação e de transformação da cultura, enquanto genericamente formas de ser, de pensar e de agir, mais ou menos partilhadas por um conjunto de pessoas de uma organização enquanto unidade coletiva coordenada (no caso em apreço do tipo educativo).   

 Como surgiu o tema da sua tese de doutoramento?

Antes do mais, devo agradecer a possibilidade que me foi dada de estudar a Casa de Infância de Santo António. Em primeiro ligar procurei compreender a longa duração da organização Casa de Infância de Santo António (fundada em 1858 enquanto Asilo da Infância Desvalida). Em segundo lugar, resolvi enveredar por uma temática que articulasse questões educativas com perspetivas organizacionais, tendo uma certa afinidade emocional com a organização, por tê-la frequentado e por ter tido um familiar que fez parte de algumas das suas Direções. Em terceiro lugar, e não menos importante, ao analisar os olhares científicos centrados na cultura organizacional verifiquei que muitos apresentavam um caráter unidimensional, redutor e simplista ao focar a sua formação e transformação.
      
A sua tese chega a algumas conclusões bastante interessantes. Como vê a sua aplicação?

Na tese, através de uma análise diacrónica que abrange 150 anos, procuro demonstrar que existe uma multiplicidade de fatores que ajudam a entender a cultura de uma organização. Verifica-se que a cultura desta organização sofreu reconfigurações, por vezes de uma forma não linear, para as quais concorreram, ao longo do tempo, quer os contactos estabelecidos com o exterior (na procura de recursos, na tentativa de legitimação das finalidades e atividades aí desenvolvidas e, também, nas influências exercidas nos membros da organização, tudo isto em diferentes contextos sociais), quer, ainda, os contactos acontecidos na organização entre os atores individuais e coletivos.
No final do percurso investigativo, compreende-se que as transformações dos contextos, quer internos, quer externos à organização que foram acontecendo se enquadram numa dimensão espaço-temporal socio-histórica. Deparámo-nos com realidades complexas, cuja singularidade idiossincrática tem de ser considerada e verificada empiricamente e que advém da coexistência, com fronteiras fluidas entre si, de cultura, culturas, subculturas, contraculturas presentes na organização, com variações ao longo do tempo.
Por tudo isto, é percetível a possibilidade de aplicação destes resultados noutras organizações desde que se considere que a cultura organizacional, mais do que um estado, é um processo consubstanciado num equilíbrio híbrido e precário de coordenação coletiva, resultante do conjunto de relacionamentos individuais e de relações coletivas, internas e externas à organização, com maior ou menor intencionalidade, e, em consequência, em permanente redefinição e reconstrução.
A compreensão (a relativa e a possível) desta complexidade é que nos permitirá fugir àquilo a que um grande sociólogo clássico Max Weber refere: ”o curso das coisas torna-se natural quando não nos interrogamos sobre o seu sentido”. Ora, nenhuma organização é uma reificação, mas antes é socialmente construída, pelo que implica considerá-las enquanto processo coletivo social de coordenação, que não é automaticamente dirigido, nem previamente determinado, nem neutro ou natural, mas sim inserido num certo contexto social. Daqui resulta a necessidade de superar, quer a reificação da organização enquanto objeto natural e inevitável, fatalista, quer resultante de um procedimento (pré)determinado, quer, ainda, a sua antropomorfização, que teria desígnios e propósitos próprios extrínsecos à ação humana.
Assim, resulta que, ao investigarmos as reconfigurações da cultura organizacional, temos de considerar, sempre, que se trata de um processo social desenvolvido por atores individuais e coletivos, que reproduz, mas também produz, soluções de integração interna e de adaptação externa. A necessidade de conhecer mais e melhor acerca da temática em causa revela-se imprescindível para procurar ter algum domínio no caminho a prosseguir de uma forma consciente.
Vai continuar na investigação? Qual o próximo passo?

Após este trabalho de longo fôlego, penso continuar a investir na relação entre a cultura organizacional e a ideologia organizacional enquanto fator de legitimação das posições assumidas pelos seus dirigentes. Para esse efeito, procurarei realizar uma comparação diacrónica e sincrónica entre organizações de diversos tipos (educativas e empresariais, por exemplo). Isto sem esquecer outras áreas de interesse primordial de investigação tais como as dinâmicas dos processos de formação e de reconfiguração da cultura organizacional em organizações educativas ou, ainda, os processos de construção da identidade pessoal, social, educativa, profissional, organizacional e cultural.

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