2013/02/25

Aula Aberta com Maduro Dias - Algumas notas



O historiador Francisco Maduro Dias deu no passado dia 19 de fevereiro uma aula aberta no Campus de Angra do Heroísmo, Universidade dos Açores, no âmbito da disciplina de Empreendedorismo do curso de Gestão.

O auditório encheu com alunos de todos os cursos.

Maduro Dias começou por observar que os contos tradicionais ensinam às crianças o que é o sacrifício por um objectivo, muitas vezes dirigido ao bem-estar de outros, transmitindo modelos de acção. As versões 'soft' mais recentes não preparam as crianças tão bem. Por exemplo, na história tradicional, o Capuchinho Vermelho faz várias perguntas ao Lobo Mau, disfarçado de Avozinha; a criança interioriza este comportamento, e ao crescer sabe, embora não de forma consciente, que deve colocar várias questões antes de se envolver num projecto.

Maduro Dias enfatizou a ideia de que nos Açores e em Portugal não temos a apreciação correcta das circunstâncias. Há um discurso recorrente de 'se houvesse isto...', 'se fossemos como...', que se contrapõe a exemplos como o de Israel que sedeou a sua Estação Agronómica Nacional em pleno deserto Negev, desenvolvendo técnicas pioneiras como a rega gota-a-gota e a hidroponia. A história mostra que ou usamos o que temos ou somos colonizados por outros povos.
O historiador recomenda o livro "Estratégia Lusitana" de José Rafael Nascimento (de Gestão) e do Tenente-Coronel Paulo Lopes da Silva (Exército, Cavalaria - a elite das Forças Armadas).

Um exemplo de empreendedorismo nos Açores foi Frederico Vasconcelos que comprou vinho de má qualidade aos agricultores, transformou-o em vinagre de boa qualidade e exportou-o. Esta atitude demonstra sagacidade na compreensão das necessidades e na capacidade de adaptação do que temos ao que devemos oferecer.

A história dos Açores compreende vários destes episódios em que se percebeu uma necessidade no 'outro' e se utilizaram os recursos locais para a satisfazer, tais como, o cultivo do trigo para as praças no Norte de África, a exportação do pastel, nos séculos XVI, XVII e XVII, o dealbar das cidades de serviços com Angra a abastecer navios, a cultura da laranja, em que os Açores forneceram Inglaterra quando Espanha foi invadida pelo exército napoleónico, a baleação e a imigração para os EUA e Canadá e o ciclo da vaca, iniciado com o 'Plano Pecuário dos Açores', durante a ditadura, num contexto em que cada colónia se especializava num tipo de produção.

Um exemplo com particular interesse são as caixas de cedro do século XVI, objectos de grande dimensão que eram exportados completamente montados, sem as condições de embarque de hoje, e bastante valorizadas pela Europa. Um comentador da época observava que estas arcas não eram tão trabalhadas como as de Antuérpia, mas que eram muito bonitas pelos engastes com madeiras de cores (sanguinho, pau branco, etc.). Em Angra chegaram a estar registadas 72 oficinas de caixas de cedro, aproximadamente as mesmas que em Lisboa. É um exemplo de como não tentaram imitar o produto de Antuérpia, mas conseguiram aproveitar um recurso que começou por ser subproduto da desmatação para pastoreio, de uma forma única e bastante apreciada.

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