(entrevista disponível neste link)
Em visita à Universidade Federal Juiz de Fora, pesquisador dos Açores propõe conceber projetos em conjunto
O Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada (PPGEA) da Faculdade
de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) está
recebendo o professor da Universidade dos Açores, Tomaz Lopes Dentinho,
com o objetivo de trocar experiências e promover aprendizagem mútua.
Coordenador do Grupo para o Desenvolvimento Regional Sustentável da
Universidade dos Açores e membro do Centro de Estudos de Economia
Aplicada do Atlântico, ele coordena o mestrado em Gestão e Conservação
da Natureza. Doutor em Gestão Interdisciplinar da Paisagem, Dentinho é
atualmente secretário-executivo da Associação Internacional de Ciência
Regional (RSAI).
Em entrevista, ele falou da importância das trocas acadêmicas que
estão sendo estabelecidas e do que espera de uma possível parceria com a
instituição. Comentou sobre o material aplicado em seu minicurso e se
mostrou entusiasmando com o momento acadêmico que atravessa o Brasil,
especialmente em relação à ciência.
Conheci o professor do PPGEA, Fernando Perobelli, com base na ligação
da Associação Brasileira de Economia Regional (Aber) com a RSAI. A
partir daí, surgiu a possibilidade dessa aproximação entre os cursos de
pós-graduação em economia das duas instituições.
Como é seu trabalho em Açores e qual foi a proposta para o minicurso?
Em Açores tenho uma pequena equipe de trabalho com alunos de mestrado
e doutorado, além de projetos de investigação científica, atuação na
área de prestação de serviços e de análises de impacto ambiental. O
Fernando (Perobelli) já tinha visitado Açores, mas essa cortesia da UFJF
em me convidar para ministrar o curso de modelos de interação espacial
com uso do solo foi o primeiro intercâmbio de fato. Basicamente,
trabalhamos em cima dos modelos de interação espacial que funcionam à
nível das cidades. Para tal, em uma das principais atividades, tentamos,
com a pequena quantidade de dados que conseguimos mobilizar nesse curto
espaço de tempo, criar um modelo com caráter espacial para São Paulo e
trabalhar em cima dele.
Tínhamos dados da distribuição de empregos e endereços por zonas da
cidade de São Paulo, e sua economia gira, em grande parte, em torno da
compra e venda de propriedades. Pedagogicamente, conseguimos chegar a
resultados teóricos através de programas de computador, mas ainda não
temos um modelo pronto que calibre mais profundamente as rendas e os
valores de propriedades. A ideia é propôr soluções estruturais para a
dinâmica urbana da capital paulista, bem como entender, em termos
pedagógicos, qual é a utilidade dos modelos ensinados no minicurso.
Fizemos também uma atividade para avaliar quais são as diferentes
posições dos alunos em relação à Juiz de Fora no que diz respeito à
demanda da população. No caso do Brasil, esse momento de manifestações é
reflexo da má prestação de serviços públicos, acesso a habitação,
educação, saúde, transporte. É um tipo de exercício que serve para
envolver as várias perspectivas desse assunto e de alguma forma saber
como pode solucionar os problemas, pois muitas vezes as pessoas parecem
que estão divergentes mas no fundo estão defendendo a mesma coisa.
Para o futuro, conversando com o PPGEA, estamos tentando encontrar
caminhos para estreitar os laços entre as instituições, por meio de
intercâmbios de pessoas e elaboração de projetos conjuntos. Temos grande
interesse nessa troca. O Brasil está investindo muito em ciência e
possui universidades de primeira linha no cenário mundial. Aqui é o
local acadêmico ideal para estabelecermos essas trocas nesse momento. A
vantagem comparativa de Açores é a interdisciplinaridade existente entre
economia, planejamento, meio ambiente e tecnologia agronômica.
Portanto, temos também a acrescentar àqueles alunos que tenham interesse
em conhecer nosso curso.
Qualquer tipo de convênio depende de muitas pessoas. No entanto, mais
importante do que a questão orçamentária, é descobrir os profissionais
que tenham interesse em fazer parte desses projetos, e que tipo de
estudos elas estão interessadas em fazer. A partir daí, podemos
estabelecer linhas de estudo em conjunto. Tenho alunos de doutorado que
gostariam de passar um período acadêmico no país para construir algum
material científico que agregue valores à sua formação profissional, e
acredito que o mesmo aconteça aqui.
Para nós já está sendo muito importante. Para começar, em termos de
aprendizagem mútua, é muito facilitador termos um espaço que fala a
mesma língua, o que torna o ensino mais simples. Apesar das realidades
serem diferentes, procurar o que há em comum é exatamente o propósito da
ciência. Portanto, a realidade é diferente, mas a estrutura econômica é
parecida e o comportamento das pessoas também. É isso que nos permite
utilizar os mesmo modelos aqui, em Açores ou na Índia. A diferença de
dimensões territoriais representa algum desafio em termos metodológicos,
mas que é igual em termos de comportamento humano. Ou seja, Se tratando
do objeto de análise, Açores leva vantagem, pois a ligação entre o
homem e o ambiente no espaço menor ajuda a nos orientar melhor
economicamente. O que temos certeza é que o ser humano é igual e as
diferenças existentes só ajudam a universalizar os modelos que temos. No
futuro, esperamos conseguir adaptar os estudos feitos em Açores na
realidade da escala geográfica brasileira, especialmente no que diz
respeito a racionalização do lixo, da água e energia. Acho que estaremos
ajudando bastante se conseguirmos trazer essas ideias para cá.
Outra possibilidade dessa aproximação entre os cursos é a oferta de
um novo possível campo de trabalho, já que em Portugal está mais difícil
encontrar espaço para os mais novos, mesmo se tratando de profissionais
qualificados. Acredito que todos sairão ganhando se conseguirmos
inserir profissionais de qualidade que estão sem espaço lá, mas que
talvez encontrem aqui no mercado de trabalho brasileiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário