No próximo dia 1 de maio, a enfermeira e professora doutora Rosa Carvalhal, da Escola Superior de Enfermafem de Angra do Heroísmo, irá apresentar o seu livro "Cuidade de Idosos - Uma Prática Co-construída". Em discurso direto, tentamos antecipar o que nos revela este livro.
De que trata “Cuidar de Idosos”?
Trata da procura de respostas para um melhor cuidar
dos idosos em situação de doença em particular no que se prende com as relações
interpessoais idosos, família e enfermeiros, ou seja, incide sobre a
problemática da enfermagem geriátrica. Resulta de um estudo etnográfico, que teve
como finalidade a compreensão da cultura relacional do contexto hospitalar geriátrico.
Pretendi compreender o que necessitam; o que querem e
o que tem, os idosos e famílias no que se refere à dimensão relacional dos
cuidados de enfermagem.
Numa sociedade que envelhece, cujos maiores clientes
dos serviços de saúde são idosos, muitas questões se colocam: como se constrói
essa relação? Depende de quê? Ao que leve a mesma? Quais os contributos dessa para
os idosos, famílias e enfermeiros? Qual a cultura relacional destes serviços? O
que contribui para a mesma? Esta “enforma” os profissionais de saúde em
presença?
Em
análise estão os factores de diferenciação da relação de enfermagem geriátrica e
a sua caracterização, constituindo os elementos que levam à sua
sustentabilidade como prática peculiar.
A temática
relacionada com a Gerontologia está bem presente nos currículos da licenciatura
em Enfermagem?
A temática geriátrica, poder-se-á considerar que já
tem uma presença significativa nos currículos da licenciatura em enfermagem. No
que se refere à gerontologia já não se poderá dizer o mesmo. Esta é uma das
questões que acredito será completamente diferente no próximo currículo que já
nos encontramos a trabalhar.
Cada vez mais considero que mais que formarmos para o
tratamento da doença e para a cura, temos de formar para a melhoria da
qualidade de vida das pessoas em todas as idades, situações e em todos os
contextos onde se encontrem, para dar resposta aos seus projectos de saúde.
O paradigma da
cura já não responde aos projectos de saúde das pessoas. Num paradigma humanista, onde a preocupação
se centra na qualidade de vida, a formação e contextos de saúde tem de deixar a
perspectiva hospitalocentrista que os têm caracterizado e virar-se para os
cuidados integrados comunitários; para a promoção da saúde e prevenção da
saúde.
Só criando respostas para “dar mais vida aos anos nos podemos
orgulhar de ter acrescentado mais anos à vida”.
O que ainda falta fazer nos Açores
para se ter um “envelhecimento ativo”?
Se
considerarmos o envelhecimento activo
como o processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e
segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem (OMS,
2002), facilmente constactamos que se tem vindo a fazer algumas coisas, mas que
muito há ainda por fazer.
Considero
que se tem vindo a fazer algumas coisas neste sentido, embora as questões de
fundo persistam. Medidas como a criação do cartão 60 +, actividades de laser e
exercício físico de proximidade, nas diferentes freguesias, as universidades
seniores, os programas de turismo senior, os centros de dia…, são exemplo disso.
O
que penso que está por fazer e é a transformação da sociedade para estar de
acordo com as alterações demográficas actuais, ou seja o desenvolvimento de uma
cultura intergeracional e
comunitariamente integrada.
Para
um envelhecimento activo, na minha perspectiva, passa por criar respostas
intergeracionais, integradas, abrangendo um conjunto alargado e diversificado
de áreas – social, educacional, saúde, cultura e lazer, habitacional, entre
outras - que envolvem a vida das pessoas.
Esta
realidade abrange-nos a todos, independentemente da idade, por isso só faz
sentido, numa cultura social intergeracional que urge promover para a mudança
de mentalidades. Há que repor os idosos no lugar que é deles por direito, como
cidadãos. Vê-los como pessoas que tem limitações e potencialidades, tal como acontece
em todas fases e desenvolvimento da humano. Que tem muito para dar e não apenas
para receber.
Medidas
para um envelhecimento activo sem esta cultura intergeracional, serão sempre
medidas “avulso” que acentuam o “ghetto” onde se tem vindo a meter as pessoas
à medida que envelhecem.
Enquanto
se fomentar a visão do idoso como “um
peso social, responsável por quase todos os males da sociedade actual”; como
“um ser incapaz que há que arrumar” tudo o que se fizer serão sempre medidas ghetantes.
É
indiscutível que o envelhecimento demográfico está ai para durar e continuar a
acentuar-se. Há que perspectivar esta realidade como positiva e repensar a
forma da sociedade viver e se organizar. Esta realidade trás necessidades de redes
de suporte diferentes, mas para todos e não apenas aos idosos.
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