2014/01/15

Da sala de aula ao contexto clínico




Texto da autoria de Pedro Gonçalves Almeida
Aluno do 2º Ano Enfermagem

Esta reflexão relata a minha primeira experiência de ensino clínico, com pessoas em situação de doença, a forma como lidei com elas e o modo como encaro este processo. Realizei-o em contexto hospitalar e num centro de saúde.

Nos primeiros dias em contexto hospitalar, tinha muitas expetativas, mas não contava sentir um impacto tão forte. Deparei-me com “casos delicados” e senti que, dada a minha inexperiência deveria, não só mobilizar os conhecimentos adquiridos durante o período teórico, como também estar atento às orientações das enfermeiras tutoras. Estas, também me ajudaram a estabelecer relações satisfatórias com os utentes com quem lidava diariamente. 

Aprendi a refletir sobre a construção dos cuidados de enfermagem e familiarizei-me com a dinâmica do contexto hospitalar, o que melhorou o meu desempenho. 

As reuniões que tive com as orientadoras ajudaram-me a perceber as estratégias a adotar, e a sentir-me cada vez melhor para ajudar os utentes, nomeadamente no que se refere ao controle da minha ansiedade. Certos utentes foram capazes de perceber que eu era pouco experiente, mas que me esforçava por dar respostas adequadas às suas necessidades. 

Interessaram-se por mim e, estar com elas, fez-me sentir que é assim o processo de cuidar. Progressivamente, construiu-se uma relação de ajuda que facilitou a minha inserção naquele contexto. 

Tive consciência de que é necessária muita “bagagem” teórica para prestar cuidados de enfermagem e intervir fundamentadamente, pelo que aprofundei os meus conhecimentos conversando com as orientadoras e pesquisando autonomamente. O incentivo motivou-me e fez-me perceber que os meus déficits de conhecimentos podiam ser colmatados, conjugando a experiência com a investigação, visto que em cada caso existem especificidades que requerem uma adequação dos conhecimentos teóricos investigados.

Numa segunda fase do Ensino Clínico e já no centro de saúde, a adaptação foi mais fácil, embora a minha desinibição tivesse de ser um pouco maior para conseguir desenvolver os cuidados de enfermagem adequados às necessidades dos utentes. Neste contexto, foi de especialmente importante a educação para a saúde, pois a partilha de informações potencia mudanças de hábitos capazes de melhorar a qualidade de vida. A simpatia e abertura de alguns utentes que tiveram em atenção as recomendações que lhes foram feitas, fez-me experienciar momentos especialmente gratificantes. No entanto, deparei-me também com pessoas mais relutantes ou com situações mais delicadas que necessitavam de apoio especializado. 

Como tenho vindo a partilhar, o Ensino Clínico é um processo moroso que exige autoaperfeiçoamento. 

Vai-se adquirindo experiência e noção da realidade, para se conseguir ter segurança e iniciativa na prática clínica. O aconselhamento dos orientadores, em contexto clínico, é fundamental para se poder amadurecer e atingir o nível de performance que pretendemos. Embora este processo seja exigente, acaba por ser recompensador, pois está a contribuir-se para o bem-estar dos utentes que necessitam de ser compreendidos e acompanhados bem como para a nossa realização pessoal.

Por fim, afirmo que o Ensino Clínico contribuiu para que desenvolvesse uma noção diferente da abrangência da profissão para a qual estou a formar-me. É evidente que é exercendo os cuidados de enfermagem que se consegue mobilizar os conhecimentos aprendidos e simultaneamente, ao lidar-se com uma diversidade de pessoas, aperfeiçoarmo-nos e alargarmos a nossa perceção da realidade dos cuidados de enfermagem construídos com e para os cidadãos.

Texto publicado no Diário Insular em 09/01/2014

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