2014/02/11

PERCURSOS: Francisco Sousa


Quem é Francisco Sousa?

Professor Auxiliar do Departamento de Ciências da Educação da Universidade dos Açores, investigador do CIEC (Centro de Investigação em Estudos da Criança, Universidade do Minho), coordenador da pós-graduação em e-learning na UAç.


O que destaca do seu percurso?

Depende. Destacar em função de quê? Se for em função do grau de dificuldade dos obstáculos, destaco o facto de, com dez anos de idade, acordar às cinco e meia da manhã e passar três horas por dia em autocarros, a fim de frequentar a escola. Daí para a frente os obstáculos têm sido menos difíceis. Se for em função do prazer em realizar determinadas atividades, destaco o facto de ter estudado um ano na Columbia University – uma universidade de referência, localizada numa cidade fascinante (Nova Iorque). Em termos de construção da identidade profissional, destaco o facto de hoje trabalhar mais em equipa e em parceria do que no passado. O projeto ICR, do qual resultou uma publicação já referida pelo blog "Há Vida no Campus" constitui o principal testemunho de um trabalho colaborativo, neste caso com professores do ensino básico, em que me envolvi recentemente. Relativamente a outros desafios profissionais, destaco o meu interesse recente pelo e-learning. Mas o que mais contribui para que me sinta profissionalmente realizado são pequenos episódios que evidenciam algum reconhecimento da relevância do meu trabalho. Não me refiro necessariamente a prémios ou elogios. Refiro-me sobretudo a situações em que ex-alunos me têm abordado, pedindo-me ajuda no esclarecimento de questões relativas às suas atividades profissionais ou académicas. Julgo que episódios deste tipo são reconfortantes para qualquer professor, na medida em que nos fazem sentir úteis, conscientes de que o nosso trabalho é reconhecido pelos alunos como relevante, não servindo apenas para obterem aproveitamento académico.


Onde se vê em 2020?

Academicamente, espero estar em qualquer lugar onde possa trabalhar com dignidade, sem me afastar muito da família, na realização de tarefas socialmente relevantes. A sociedade contemporânea é muito carregada de incertezas. Não sei onde estarei em 2020, mas não me desagrada a possibilidade de continuar a trabalhar no campus universitário de Angra do Heroísmo, produzindo a partir daqui trabalho que seja útil neste e noutros lugares. Neste momento, por via do investimento no já referido interesse em e-learning, já tenho alunos residentes em São Miguel sem ter de me deslocar ao campus de Ponta Delgada, sem usar o sobrecarregado sistema de videoconferência da UAç e sem que isso implique perda de qualidade do ensino (antes pelo contrário), conforme demonstrado pela avaliação do trabalho letivo que já realizei via e-learning .

Gostaria, aliás, que a discussão deste tema ultrapassasse o patamar das experiências individuais e fosse situada no plano institucional. Onde se vê a UAç em 2020? Como se situa a UAç face a um mundo cada vez mais virtualizado? A UAç não deveria investir seriamente em e-learning? Em 2020 ainda haverá muita gente a pensar que ensino a distância é sinónimo de videoconferência? Em 2020 ainda estaremos a discutir as dificuldades de financiamento da deslocação de docentes e a disputar reservas das salas de videoconferência?


O que gostaria de fazer, que ainda não conseguiu fazer, mas que vai fazer?

Gostaria de participar noutro projeto de investigação colaborativa com professores do ensino não superior, com características comuns ao já referido ICR, mas menos dependente de boas vontades individuais, ou seja, mais assente num reconhecimento generalizado da importância de uma componente investigativa no trabalho dos docentes do ensino não superior, visando a resolução de problemas com que se confrontam nas suas escolas e salas de aula. Gostaria também de convencer mais colegas e decisores de que ensino a distância não é sinónimo de videoconferência e de que, embora haja muitas situações que não dispensam o ensino presencial, é possível e desejável, com vantagens para a UAç, fazer na área do e-learning mais do que se faz atualmente – com muito mais abrangência, consistência e qualidade. Ainda a propósito deste assunto, gostaria que em 2014/15 o curso de pós-graduação em e-learning entrasse em funcionamento na UAç (em 2013/2014 faltaram duas matrículas).

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