O Prof. Doutor Luís Souto lecciona na Universidade dos Açores, no Campus de Angra do Heroísmo, desde 1994, na área de Engenharia Rural, em matérias ligadas à Bioclimatologia e ao Conforto Animal e também aos Projectos de Construções.
Como surgiu o seu interesse pelo Tai-chi?
O meu primeiro contacto com o Tai Chi não foi muito bem-sucedido. Foi talvez pelos meus 20 anos que me dirigi um dia a um professor de Tai Chi no Porto, cidade donde sou natural, com o intuito de praticar. Contudo, senti que o professor ou a Escola em que ele estava inserido não tinha muito para me ensinar. Na altura praticava há algum tempo Yoga, Karaté Shotokai e fazia regularmente meditação, o que me dava uma experiência e maturidade diferente das questões ligadas com a atitude interior, a respiração e o movimento.
Terminada a minha licenciatura em Vila Real, iniciou-se uma nova etapa profissional de docência na Universidade dos Açores, com uma assinalável pressão e stress devido às responsabilidades de um jovem docente e ao prosseguimento das provas académicas que culminaram no doutoramento. Em grande parte desse percurso desleixei-me nas minhas práticas saudáveis e senti que precisava de retomar as coisas que tinha deixado um dia para trás. Então deparei-me com algumas limitações aqui em Angra do Heroísmo no que diz respeito à oferta de actividades a que estava habituado. Comecei assim a praticar sozinho novamente ginástica, meditação e alguns movimentos de Karaté. Foi então aí que comecei a executar os movimentos de Karaté de uma forma mais lenta e a sentir toda lógica corporal e a energia que emanava da sua execução, a qual não podia sentir tão nitidamente quando os movimentos eram executados de forma rápida. Tomei então consciência que queria praticar Tai Chi e que esse seria um passo adiante no meu trabalho pessoal para desenvolver outras sensibilidades e consciência interior.
No seguimento de alguns contactos encontrei em Angra do Heroísmo, no ano de 1999, uma pessoa amiga que me ensinou os primeiros movimentos do Tai Chi. Posteriormente, contactei em 2003 a minha Escola (Art du Chi - Escola da Via Interior), que é uma escola internacional, que me deu e continua a dar uma formação profunda em Tai Chi e Chi Kung. Dela imana a minha capacidade de transmissão do Tai Chi e do Chi Kung. Deste modo pratico Tai Chi regularmente há cerca de 14 anos.
Benefícios do Tai Chi
Antes de falar dos seus benefícios imensos tenho que esclarecer que o Tai Chi ensinado pelas várias escolas não é todo igual. Basta ir ao youtube para nos apercebermos disso mesmo. Isto pode parecer estranho à primeira vista. De forma simplista, pode dizer-se que existem escolas que dão mais ênfase à marcialidade do movimento, outras que procuram mais a estética do movimento e outras ainda que dão mais ênfase à circulação da energia interna (Chi). Assim, o trabalho e as técnicas desenvolvidas têm forçosamente efeitos diferentes. A Escola Art du Chi – Escola da Via Interior, coloca a ênfase preferencialmente no terceiro aspecto atrás referido.
O Chi é um conceito proveniente da tradição oriental chinesa e representa a energia vital presente em todos os organismos vivos. No Japão designa-se por Ki, na tradição Hindu por Prâna. Pertence à ordem de manifestação subtil e a ciência não encontrou meios para o medir. Nada tem de mágico. É a energia que suporta a vida e nos liga a algo mais universal. É por isso também uma forma de comunicação. Só podemos sentir os seus efeitos. É o princípio em que se baseia a acupunctura e que é aceite em muitos países ocidentais como terapia credível.
Os benefícios da prática regular do Tai Chi devem-se ao aumento da energia nos circuitos internos do corpo. Isto é promovido pelo relaxamento mental e físico e pela execução de sequências de movimentos corporais, os quais estão “codificados” para aumentar a circulação da energia interna. Não são uns movimentos quaisquer. Obedecem a lógicas corporais mas também a uma lógica da circulação energética.
Melhora o estado de saúde geral e os efeitos são relevantes no bem-estar físico e psicológico, com benefícios nítidos na redução do stress, na melhoria do sono, na respiração, na diminuição de dores musculares e articulares, nas funções vitais (circulação, digestão, sistema imunitário), na energia para as actividades do dia-a-dia, no relacionamento pessoal e na satisfação de viver. Desenvolve também princípios de defesa pessoal.
O trabalho da nossa Escola não é dirigido para tratar esta ou aquela patologia, ou obter este ou aquele resultado. Os benefícios são garantidos na razão directa da regularidade dos alunos praticarem as técnicas (respiração, automassagens, postura, relaxamento, movimento, meditações, etc) e do contacto com o professor. Os benefícios vão-se consolidando e os efeitos vão-se sentindo em função dos reequilíbrios a partir do estado inicial do aluno.
Já dá aulas de Tai-chi há algum tempo na Terceira, não é verdade? Como estão a decorrer as sessões no campus de Angra?
Desde 2005 que dou aulas regulares de Tai Chi e Chi Kung na Terceira.
Tenho tido resultados muito bons com as pessoas que podem vir regularmente às aulas. Resultados positivos em pessoas de todas a idades. Desde jovens adultos até pessoas com mais idade. Nomeadamente na diminuição de dores musculares, do stress, na melhoria e correcção da postura corporal e no aumento da energia e paz interior. Mesmo em casos mais complicados, como o de artrite reumatóide, com uma melhoria enorme da qualidade de vida, da mobilidade corporal e na diminuição de dores, com redução muito significativa da necessidade de fármacos. Em todos observa-se uma melhoria da postura, da consciência e da mobilidade corporal, da qualidade do sono, da respiração e do bem-estar geral. De uma forma geral, tenho constatado nos meus alunos os benefícios que se podem esperar de um trabalho deste nível.
As pessoas que lhes estão próximas confirmam essas evoluções e benefícios. O mérito é sempre dos alunos, estarem lá com a disponibilidade interior para escutarem o que tenho para transmitir.
Quem pode frequentar as suas aulas?
Actualmente, tenho alunos de várias idades, dos 20 aos 75 anos. Não existem limitações de idade para a prática do Tai Chi da nossa Escola. Somente é necessária a maturidade suficiente para querer melhorar e evoluir. Isso faz-se de forma suave no sentido do reequilíbrio e melhoramento global ou holístico, tanto no plano físico como no emocional.
Não existem limitações físicas dos praticantes a não ser aquelas que decorrem da impossibilidade ou da precaução médica de utilizar o corpo. Os movimentos são realizados sem causarem impactos negativos nas articulações, respeitando a lógica da anatomia e as limitações individuais, desenvolvendo o equilíbrio corporal e emocional, assim como a harmonia e a liberdade corporal.
Não são necessários equipamentos nem roupas especiais. Pode fazer-se em sala ou ao ar livre, em grupo ou sozinho. Roupa e calçado confortável, um tapete de borracha e uma almofada para as aulas em sala, são tudo o que é necessário. Muitas destas coisas já temos em casa.
Em todas as idades podemos beneficiar do Tai Chi e do Chi Kung, ajudando-nos a experimentar a Vida em dimensões nunca antes atingidas, e disponibilizarmos de uma maior alegria e energia para todos os interesses e actividades da nossa vida diária, sejam elas físicas, intelectuais, artística ou espirituais.
Informações:
Obrigada, Prof. Souto, pela entrevista! Continuação de uma boa prática!
As aulas de Tai Chi são à Quarta-feira (18:30) e ao Domingo (11:00), no Relvão ou na sala de reflexão (em caso de mau tempo). Pode fazer-se a inscrição na própria aula. Para estudantes o custo mensal é de 15€. Para as outras pessoas há a modalidade de pagamento trimestral , de 60€ (representando um custo de 20€ mensais), ou uma modalidade de pagamento mensal de 25€.
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