Alexandre Rodrigues, Doutor em Enfermagem, é assistente na Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo e coordenador nos Açores dum projeto de investigação que envolve os arquipélagos dos Açores, Canárias e Cabo Verde. Há Vida no Campus conversou com ele sobre este projeto de investigação
Está envolvido num projeto, que foi recentemente aprovado, intitulado
“Investigación em salud: el problema de la nutrición en Açores, Canárias y Cabo
Verde (Pre-NUTRIACC)” no âmbito do Projeto Unamuno EixoAtlântico: cooperação
científica e tecnológica da Rede Unamuno no Eixo Atlântico com Cabo Verde. Qual
o objetivo deste projeto?
Na área da
Saúde, a Escola de Enfermagem de Angra do Heroísmo foi pioneira neste tipo de
projetos com metodologias de trabalho partilhadas entre as ilhas da
Macaronésia. Os produtos de projetos anteriores tiveram e têm resultados
bastante positivos tanto para as instituições parceiras como para a saúde das
regiões. A esta parte temos o exemplo do projeto ICE – Investigação Científica
em Enfermagem.
Assim, o projeto
Pré-NUTRIACC pretende impulsionar a investigação em saúde, especificamente na
área da nutrição, promovendo o trabalho multidisciplinar entre diferentes
profissionais de saúde e profissionais de áreas complementares.
Este é um
projeto que surge na sequência de uma necessidade comum às três regiões
envolvidas e que será estudada com base numa avaliação epidemiológica. A qual
permitirá, numa primeira fase, identificar das necessidades reais de cada
região, as quais serão, posteriormente, trabalhadas em função das especificidades
emergentes. Embora conscientes dos constrangimentos e potencialidades de cada região, todas as etapas do projeto
serão acompanhadas e desenvolvidas em parceria pelos três parceiros.
Que mais-valias tem trazido este tipo de projetos onde impera a cooperação e interdisciplinaridade entre cientistas de várias universidades atlânticas e o
que se perspetiva para o futuro?
As cooperações
interdisciplinares são uma mais-valia por permitirem uma abordagem muito mais
completa de determinado problema, pois os diferentes pontos de análise
complementam-se. O facto de se tratar de investigadores de diferentes regiões e
de diferentes culturas universitárias potencia a partilha de metodologias que enriquecem
o perfil investigador dos seus elementos e transportam inovação para a academia
nos quais se integram.
O tempo em que
os docentes se centravam apenas, ou na
lecionação ou na investigação, terminou! Exige-se cada vez mais que no papel do
docente do ensino politécnico e universitário seja integrada a vertente de
investigação, como um complemento e inovação para a lecionação. Acrescento-lhe
ainda que se esta investigação for de cariz intenacional torna-se muito mais
sustentada para si próprio e para a credibilização da instituição à qual
pertence.
A Universidade
dos Açores, tem vários projetos de investigação de excelência a este nível que,
face à situação económica atual, poderiam ser objeto de maior reconhecimento
interno e tornar-se num recurso, tanto para a própria Academia como para a
Região, como forma de rentabilização dos recursos existentes.
Centrando a
atenção e o contributo deste tipo de projetos para a unidade orgânica à qual
pertenço, além do valor acrescentado acima explicitado, também se tem
transformado em novas oportunidades de ofertas formativas: Pós-Graduações e
Mestrados. Assim, pretendemos que o Pré-NUTRIACC se torne numa mais-valia quer
para o desenvolvimento da Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo quer
da Região Autónoma dos Açores.
A enfermagem já se conseguiu afirmar definitivamente ao nível do
reconhecimento cientifico?
A enfermagem,
como disciplina ainda é recente, pelo que tem um longo percurso pela frente. No
entanto, temos assistido a um crescimento a um ritmo acelerado na busca da sua
identidade, na adoção de estratégias que permitam legitimar o conhecimento
produzido e no emprego de teorias próprias para fundamentar suas pesquisas, o
que se torna num excelente contributo para o seu reconhecimento.
Sem dúvida que a
enfermagem ainda se sustenta noutras disciplinas, principalmente nas áreas das
ciências sociais e humanas, o que faz parte do seu percurso. Para que o
verdadeiro reconhecimento seja alcançado, terá de ela própria ser uma fonte de sustentabilidade
para outras disciplinas. Para alcançar este objetivo, é importante valorizar a
ação autónoma da enfermagem como corpo central de conhecimento. Pese embora,
que não poderemos descurar que esta partilha zonas comuns de interacção com
outras disciplinas ligadas à saúde, justificando-se a interdependência não só
na intervenção como também na produção de conhecimento.
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