2013/11/02

Entrevista de Tomaz Dentinho publicada na Universidade Federal Juiz de Fora - Brasil


(entrevista disponível neste link)

Em visita à Universidade Federal Juiz de Fora, pesquisador dos Açores propõe conceber projetos em conjunto

O Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada (PPGEA) da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) está recebendo o professor da Universidade dos Açores, Tomaz Lopes Dentinho, com o objetivo de trocar experiências e promover aprendizagem mútua. Coordenador do Grupo para o Desenvolvimento Regional Sustentável da Universidade dos Açores e membro do Centro de Estudos de Economia Aplicada do Atlântico, ele coordena o mestrado em Gestão e Conservação da Natureza. Doutor em Gestão Interdisciplinar da Paisagem, Dentinho é atualmente secretário-executivo da Associação Internacional de Ciência Regional (RSAI).

Em entrevista, ele falou da importância das trocas acadêmicas que estão sendo estabelecidas e do que espera de uma possível parceria com a instituição. Comentou sobre o material aplicado em seu minicurso e se mostrou entusiasmando com o momento acadêmico que atravessa o Brasil, especialmente em relação à ciência.

Como surgiu o contato com a Faculdade de Economia?

Conheci o professor do PPGEA, Fernando Perobelli, com base na ligação da Associação Brasileira de Economia Regional (Aber) com a RSAI. A partir daí, surgiu a possibilidade dessa aproximação entre os cursos de pós-graduação em economia das duas instituições.

Como é seu trabalho em Açores e qual foi a proposta para o minicurso?

Em Açores tenho uma pequena equipe de trabalho com alunos de mestrado e doutorado, além de projetos de investigação científica, atuação na área de prestação de serviços e de análises de impacto ambiental. O Fernando (Perobelli) já tinha visitado Açores, mas essa cortesia da UFJF em me convidar para ministrar o curso de modelos de interação espacial com uso do solo foi o primeiro intercâmbio de fato. Basicamente, trabalhamos em cima dos modelos de interação espacial que funcionam à nível das cidades. Para tal, em uma das principais atividades, tentamos, com a pequena quantidade de dados que conseguimos mobilizar nesse curto espaço de tempo, criar um modelo com caráter espacial para São Paulo e trabalhar em cima dele.

Como foi esse trabalho sobre a cidade de São Paulo?

Tínhamos dados da distribuição de empregos e endereços por zonas da cidade de São Paulo, e sua economia gira, em grande parte, em torno da compra e venda de propriedades. Pedagogicamente, conseguimos chegar a resultados teóricos através de programas de computador, mas ainda não temos um modelo pronto que calibre mais profundamente as rendas e os valores de propriedades. A ideia é propôr soluções estruturais para a dinâmica urbana da capital paulista, bem como entender, em termos pedagógicos, qual é a utilidade dos modelos ensinados no minicurso.

Fizemos também uma atividade para avaliar quais são as diferentes posições dos alunos em relação à Juiz de Fora no que diz respeito à demanda da população. No caso do Brasil, esse momento de manifestações é reflexo da má prestação de serviços públicos, acesso a habitação, educação, saúde, transporte. É um tipo de exercício que serve para envolver as várias perspectivas desse assunto e de alguma forma saber como pode solucionar os problemas, pois muitas vezes as pessoas parecem que estão divergentes mas no fundo estão defendendo a mesma coisa.

Em relação à parceria entre os cursos de pós-graduação, quais são as metas para o futuro?

Para o futuro, conversando com o PPGEA, estamos tentando encontrar caminhos para estreitar os laços entre as instituições, por meio de intercâmbios de pessoas e elaboração de projetos conjuntos. Temos grande interesse nessa troca. O Brasil está investindo muito em ciência e possui universidades de primeira linha no cenário mundial. Aqui é o local acadêmico ideal para estabelecermos essas trocas nesse momento. A vantagem comparativa de Açores é a interdisciplinaridade existente entre economia, planejamento, meio ambiente e tecnologia agronômica. Portanto, temos também a acrescentar àqueles alunos que tenham interesse em conhecer nosso curso.

Como andam essas negociações? O que falta para ser concretizada a parceria?

Qualquer tipo de convênio depende de muitas pessoas. No entanto, mais importante do que a questão orçamentária, é descobrir os profissionais que tenham interesse em fazer parte desses projetos, e que tipo de estudos elas estão interessadas em fazer. A partir daí, podemos estabelecer linhas de estudo em conjunto. Tenho alunos de doutorado que gostariam de passar um período acadêmico no país para construir algum material científico que agregue valores à sua formação profissional, e acredito que o mesmo aconteça aqui.

Qual a importância dessa troca?

Para nós já está sendo muito importante. Para começar, em termos de aprendizagem mútua, é muito facilitador termos um espaço que fala a mesma língua, o que torna o ensino mais simples. Apesar das realidades serem diferentes, procurar o que há em comum é exatamente o propósito da ciência. Portanto, a realidade é diferente, mas a estrutura econômica é parecida e o comportamento das pessoas também. É isso que nos permite utilizar os mesmo modelos aqui, em Açores ou na Índia. A diferença de dimensões territoriais representa algum desafio em termos metodológicos, mas que é igual em termos de comportamento humano. Ou seja, Se tratando do objeto de análise, Açores leva vantagem, pois a ligação entre o homem e o ambiente no espaço menor ajuda a nos orientar melhor economicamente. O que temos certeza é que o ser humano é igual e as diferenças existentes só ajudam a universalizar os modelos que temos. No futuro, esperamos conseguir adaptar os estudos feitos em Açores na realidade da escala geográfica brasileira, especialmente no que diz respeito a racionalização do lixo, da água e energia. Acho que estaremos ajudando bastante se conseguirmos trazer essas ideias para cá.

Outra possibilidade dessa aproximação entre os cursos é a oferta de um novo possível campo de trabalho, já que em Portugal está mais difícil encontrar espaço para os mais novos, mesmo se tratando de profissionais qualificados. Acredito que todos sairão ganhando se conseguirmos inserir profissionais de qualidade que estão sem espaço lá, mas que talvez encontrem aqui no mercado de trabalho brasileiro.

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